quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um grande passeio pela modernidade

Os monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. São homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.

As vezes observo que as pessoas se robotizando com seus telefones celulares, computadores, ifones, smarth fone, etc. Estão o tempo todo preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam ou bebendo o que não querem. Há pessoas que tomam café por hábito mesmo depois de já haver tomado café da manhã em casa, mas como a compania é agradável lá mais um café. Isso tudo me faz refletir, afinal, sou muito reflexivo. Mais uma coisa me colocou intrigado, existe um modelo de vida que nos faça feliz? E, se existe, qual será este modelo?

As crianças estão tão stressadas que parecem adultos em miniaturas. Óbvio, para torna-las competitivas estão tão cheias de tarefas que quase nem sobra tempo para brincar. Esta semana, era férias, e os meus sobrinhos vieram a minha casa, curioso que não tenho mais filhos pequenos, portanto, não seria adequado trazê-los, mas para eles era como a fuga que os levavam a liberdade. De repente, tive que leva-los de volto porque havia um horário marcado com a explicadora. Explicadora? Elas não tem férias? Por que com as crianças deixem elas em Paz. No prédio ouço as mães falando em suas filhas e sempre incluem na conversa: "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina, de computador' e de sei mais lá o quê. São as mesmas que reclamam da solidão dos filhos, reclamam da virtualidade dos filhos diante dos computadores. Estamos tirando deles o desejo de ser criança. Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente fragilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa? E os amigos de boas risadas?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, aqui, um homem pode ter uma amiga em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. É o apresentador, quem vai lá e se apresenta no palco, e ainda tem gente que perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista.

Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, quatro requisitos são indispensáveis: cuidado com o espírito, amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa da igreja de domingo.

E naquele lugar, não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas... Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir muito mal...

'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia:

"Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!"

Fiquem em Paz e que Deus nos abençoe.

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